quinta-feira, janeiro 13, 2005

A Resistência dos Inocentes

Nada como ter olhos de criança. E Valentin é uma criança de nove anos. Mora com a Avó, uma argentina que reclama de tudo, mas cuida bem dele. Sob o contexto da ditadura militar na década de 60, vive num bairro pobre de Buenos Aires. Não sabia do paradeiro da mãe e o pai era ausente. Valentin queria uma família. Uma mãe loira que o buscasse no colégio. Mas isso não o transformava numa criança triste. Assistir ao filme de Alejandro Agresti provocou-me muitas reflexões e acordou alguns sentimentos. Os que se referem à fragilidade da vida, à ternura que está nas pequenas coisas (sem as quais, dificilmente construiríamos algo), ao enfrentamento da solidão, à dor do sonho, à disposição da fé no impossível. Contentar-se com o que nos é dado, mesmo que nos pareça pouco. Valentin divertia-se com os instrumentos que inventava e os treinamentos que o levariam a ser um astronauta da Nasa. Importante imaginar, especialmente o que não se pode viver, não é mesmo? Valentin sabia disso, quando construiu uma roupa espacial, colocou pesos nos sapatos para acostumar-se à falta de gravidade que enfrentaria no espaço. Estabelecer relações sem idéias pré-concebidas. Valentin tem forte laço de amizade com o músico vizinho. Um homem incomum, um judeu solitário. Ser flexível, mudar de planos quando necessário, superar obstáculos sem grandes traumas. Passar pelas dificuldades como quem resolve rápido uma conta de matemática do dever diário e corre para a janela, o brinquedo que constrói significados para o mundo. Acreditar, sempre. O filme de Agresti é uma prova lírica e adorável de que não é preciso um grande ou dramático evento para se apresentar uma história. Basta que se saiba contá-la.

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