quarta-feira, julho 23, 2008

As Pedras

(...) Ah, a rara morte, quero esclarecer, quatro ou cinco ao longo da minha vida. Com as outras, tudo normal ou quase, o choque. A introspecção com a consolação filosofante. O apego a Deus e aos poucos aquela paciente cristalização da dor, pequenas pedras que vou guardando, de vez em quando tomo uma, sinto-lhe a forma, a cor, e afetuosamente a devolvo ao seu lugar. Mas há certas mortes que nos remetem à infância, ao medo das noites escuras que não vão amanhecer (...)
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(Solo de Clarineta. Lygia Fagundes Teles, em Conspiração de Nuvens).

segunda-feira, julho 07, 2008

Clarice

Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em silêncio. Preciso de segredos para viver.

(Clarice Lispector. Água Viva)