domingo, março 26, 2006

É bom cantar...

Quando a gente não tem o que dizer.
É Isso Aí

Ana Carolina
Composição: Ana Carolina
É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua
Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar
É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade
É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores
Eu não sei parar de te olhar
Não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar
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sábado, março 18, 2006

Mate-me Senhor, enquanto sou anjo!

Tenho uma amiga que sempre diz esta frase. Quando está indignada e não encontra solução para os absurdos do mundo. Num café durante a semana, ela me contou um sonho, antes de repetir a súplica. Um em que encontrava um antigo namorado. Ele lhe dizia: amarei-a eternamente, mas sou comprometido. Meu amor por você é sublime, indestrutível. Ela sorria candidamente, ao mesmo tempo em que balançava a cabeça e pensava: também amo a Jesus do mesmo modo, seu FDP. Então, de repente, ela se rebelou. Suavemente, como pedia a circunstância, vale ressaltar. Disse a ele que agradecia amor tão sublime, mas que preferia algo mais pé-no-chão, pele na pele, algo que envolvesse suor, esforço, o sangue da existência. Ele parecia não ouvir. Queria continuar intocável, etéreo, ideal. Ela, então, levantou-se, agradeceu a prosopopéia flácida para acalentar bovinos* e foi embora. Angelical, etérea, inatingível, como exigia o momento.
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*Conversa mole pra boi dormir.

terça-feira, março 14, 2006

O Morador

Mora alguém dentro de mim.
Alguém que me sabe
sabe o tempo e sabe o mundo.
Esse alguém não tem ouvidos
além de sua própria existência.
Com discreta autoridade
alguém ignora minhas vontades,
desfaz projetos e sonhos.
Temo por suas duras determinações
conhecidas logo antes, desde sempre.
Alguém fala forte dentro de mim.
Às vezes, chego a sentir que
somos os mesmos,
mas, ao primeiro desacordo
penso que somos outros.
Aceito-o, então, em meus aposentos.
Submissa, ignorante,
quase inocente, menos distante,
ávida de encontro.

domingo, março 12, 2006

Palavras e Sofrimento

É tão relativamente pouco o que as palavras podem fazer em relação ao sofrimento. Tão relativamente pouco que as palavras podem fazer em relação a seja lá o que for. Mas, que outra coisa temos?

(Höeg, Peter. Senhorita Smilla e o Sentido da Neve).

segunda-feira, março 06, 2006

Celibatária, graças a Deus.

Assisti ao Programa Saia Justa no Gnt, no sábado. Assunto: sexo. E complementos: masturbação feminina (com indicação de manuais na net), preguiça sexual, histeria masculina (pensavam que era doença de mulher, é?), além de outros assuntos como a dificuldade de atualização do mito de Dom Juan (o mascarado prometia casamentos às vítimas, o que, convenhamos, no século XXI não pode ser mais usado como estratégia de sedução). De tudo, destaco uma posição que ouvi das mulheres: celibato não é patologia psicológica, é opção. Sim, sexo dá trabalho. Manter uma libido em altos níveis é um esforço. Pense em sexo, pense em sexo, imagino isso, enquanto escrevo estas poucas linhas e passo os olhos na mesa cheia de projetos, provas, livros e o relógio que marca o início das aulas que vou ministrar ainda hoje. E sexo significa comprometimento, relacionamento, planejamento, prevenção. Para quem tem parceiro fixo, é preciso inovar, seduzir cotidianamente. Tudo muito estudado e pouco espontâneo. Para quem não tem, é preciso escolher e assumir o risco do investimento. Na análise do custo - benefício, as mulheres acham que, muitas vezes, é mais vantajoso apelar para a tecnologia. A que não exige nada mais do que um pouco de técnica e ritmo. Sexo por sexo. Isso é cada vez menos satisfatório. E, admitamos, não anda nada fácil encontrar alguém com boa sinastria astrológica, para a devida ocupação na agenda diária.

quarta-feira, março 01, 2006

A Saída Narrativa

Ouço muitas histórias. De muitas pessoas. Em muitos tons e gêneros. Dos alunos, da família, de alguns poucos amigos. Não raro, as narrativas giram em torno do mesmo assunto, envolvem as mesmas pessoas, que escuto em momentos diferentes, com versões diversas do mesmo fato, da mesma idéia, do mesmo problema. Nem sempre as histórias são sobre outras pessoas. Às vezes, referem-se a mim mesma (um boato alheio, uma opinião, um comentário de alguém), o que é de mais fácil trato. E como aprendo nesta escuta. Aprendo que todos têm razão. Do seu ponto de vista e do seu lugar no mundo. Nestas horas procuro não dizer nada, permanecer em silêncio. E observo que muitos conflitos poderiam ser evitados, com um pouco mais de escuta e boa vontade em ver e sentir o outro, com um pouco mais de flexibilidade. Nada muito significativo, não. Só um pouquinho de sensibilidade. Aquela, garantida entre pessoas que se amam e que precisam se lembrar disso antes de tomar qualquer atitude, antes de emitir qualquer julgamento. Tudo bem, não amamos todo mundo. Mas podemos, pelo menos tentar compreender o outro. Escutar histórias. Parece tão simples e óbvio. Quanto sofrimento poderia ser evitado.
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Li num livro o que Jürgen Habermas, escreveu sobre Marcuse em seu leito de morte:

Antes de completar oitenta anos, e preparando uma entrevista, Marcuse e eu mantivemos uma longa discussão sobre como poderíamos explicar a base normativa da Teoria Crítica. No verão passado, quando o vi pela primeira vez após esta discussão, Herbert estava sob cuidados intensivos de um hospital de Frankfurt, com todo tipo de aparato controlando-o à direita e à esquerda. Nenhum de nós sabia que isso era o princípio do fim. Naquela ocasião, em verdade nosso último encontro filosófico, Herbert lembrou a polêmica que mantivemos anos antes, e me disse: Sabe, já sei de onde se originam nossos juízos de valor mais básicos: na compaixão, em nosso sentimento pelo sofrimento dos demais.
(Jürgen Habermas, 1980).