domingo, julho 28, 2013



Elogio dos Sonhos


Nos sonhos
eu pinto como Vermeer van Delft.

Falo grego fluente 
e não só com os vivos.

Dirijo um carro 
que me obedece.

Tenho talento,
escrevo grandes poemas.

Escuto vozes
não menos que os mais veneráveis santos.

Vocês se espantariam 
com minha performance ao piano.

Flutuo no ar como se deve 
isto é, sozinha.

Ao cair do telhado
desço de manso na relva.

Respiro sem problema 
debaixo d'água.

Não reclamo:
consegui descobrir a Atlântida.

Fico feliz de sempre poder acordar 
pouco antes de morrer.

Assim que começa a guerra 
me viro do melhor lado.

Sou, mas não tenho que ser 
filha da minha época.

Faz alguns anos 
vi dois sóis.

E anteontem um pinguim. 
Com toda a clareza.


...
(WISLAWA SZYMBORSKA)