terça-feira, fevereiro 28, 2006

Na Varanda








Sentada na varanda da casa
observo o céu límpido e profundo da manhã.
Cega pelo sol vejo tudo inundado de luz intensa
sobre a grama verde brilhante.
Uma rajada de vento surdo
faz voltas e acaricia-me a face.
Pouso o livro sobre o colo.
De olhos fechados meu corpo é acolhido
e embalado pela luz branca do sol morno.
E se o céu perder o azul?
Ouço a frase num rádio distante
enquanto sinto o vento no roçar das folhas
e planto-me com tronco e raízes.
Estendo os braços para brincar com o vento
compartilho a alegria dos pássaros
e o tilintar dos talheres na cozinha é música.
Uma vibração sonora indica um carro adiante
na estrada em que viajo sentada na varanda
para chegar a lugar nenhum.

domingo, fevereiro 26, 2006

Contínuo

Deito sentimentos na folha branca intacta e o sangue corre pelas veias sem transbordar ou encontrar expressão nos gestos loucos do teclado no silêncio da boca. Os órgãos trabalham em comandos mínimos automáticos e mantém aquilo a que chamo vida por não ter outro nome.Tanta indefinição esgota as linhas e entrelinhas do texto que seleciono tudo e apago os símbolos mesmo que o coração mantenha o ritmo e os olhos fiquem abertos e a folha branca continue sem a tinta das gotas que formam rios represados disciplinados em seu curso.A folha branca insiste e lembra-me do oceano. Desfaço o contratexto e mantenho as palavras sempre poucas. Insuficientes. De todo inúteis.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Noturno

Escalo paredes de pedra.
Apoios frágeis
largam-se da base.

O gato cai da janela.

Solto-me das bordas
e sou levada pela rua
em águas incontidas.

(preocupação).

Acendo as luzes.

Sinto frio, calor,
uma pressão nas costas,
que é quase dor.

Algo toca-me a nuca.

(medo).

Ligo o som de
um lamento tibetano.
Mantras ao fundo
revelam caos e sofrimento
no tumulto multicolorido dos passantes.

(dor).