sábado, maio 16, 2009

Own

Oi louquinha,

Dia das Mães é pra reforçar como eu gosto de morar com você, como eu adoro ver você loucona* de manhã, adoro te irritar em tardes de domingo, amo conversar assuntos profundos com você e sinto falta quando você não tá em casa pra conversar comigo em momentos sem fazer nada. E é engraçado como todo mundo fala que a gente parece já de cara, porque a gente não é igual só fisicamente, como emocionalmente, e eu agradeço todas as qualidades e defeitos que você passou pra mim e que me fizeram ser o que eu sou hoje, que me fazem ter uma noção maior das coisas, ser uma pessoa bem melhor. Não precisa nem dizer que eu te amo muito e que mesmo quando a gente “se libertar”, eu for pra São Paulo e você pra FNLT**, eu vou continuar no seu pé, te enchendo o saco. Amo você, feliz dia das mães, de sua filha chata que te adora e te admira, M.C.
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* (estabanada, stressada e despenteada?)
**Frente Nacional para Libertação do Tibet

sexta-feira, maio 15, 2009

Cinema

Sabia que eram parecidos também nisso. Diriam um olá como uma ponta de iceberg cheia de lacônicos conteúdos e trocariam idéias sobre muitas coisas, ririam de bobagens sem sentido e deixariam o que não se podia dizer assim, encolhido no campo do medo. Havia algo de excessivamente íntimo e profundamente ridículo no amor, amar era definitivamente inadequado e desconfortável. Assim, nada mais útil do que deixar que a história de amor falasse por eles, permitisse o disfarce da atenção nos detalhes sobre a atuação dos atores, o que haviam lido na crítica, qualquer coisa que os desviasse da tensão essencial do filme na tela e fora dela. E a não ser quando havia a traição no toque secreto e ressonante dos braços pacificados na poltrona, era comum a vontade louca de ir embora e afastar o risco.

sexta-feira, maio 08, 2009

Oito de Maio


Não sei se é porque era maio e maio é o mês de Maria e eu sou mariana convicta, ou se é porque era o Wesak e a lua cheia de maio sempre me deixou assim, como diria, sensível aos impulsos mais profundos da alma, ou se porque ela chorou e eu também por constatar que era verdade, havia alguém dentro de mim, ou, quem sabe, porque ela me conquista a cada dia com tantos desafios, com sua inteligência viva e superioridade de espírito, eu não sei, só sei que há exatamente dezessete anos, 19:40h, do ano de 1992, nascia Maria Clara. Deus, esse amor não tem nome.

sexta-feira, maio 01, 2009

Frustração


O caminho parecia-lhe fértil e verde no fundo da janela que emoldurava o perfil no carro. Ele falava e gesticulava de um modo único, com aquelas mãos de proporções equilibradas e seguras no volante. Aceitou o convite dele sem duvidar que o sim era mais do que o aceite de um convite para almoçar naquele local próximo à cidade. Era um sim a ele e a todas as suas sutis investidas. Conversaram muito para não dar espaço ao verdadeiro sentido de estarem ali, anônimos de si mesmos, sob todos os disfarces dos desejos encobertos nos assuntos. Num instante e já se encontravam na vila feito baratas tontas, sem que ela fosse objetiva quando ele perguntava sobre onde iriam. Ele queria um sinal explícito e sua hesitação cheirava a medo. Depois de alguns talvez, você é quem sabe, pode ser, foram parar naquela pousada que tinha um enorme jardim. Achavam que não queriam um quarto, iam primeiro visitar o local. Caminharam constrangidos e cautelosos pela trilha que levava ao chalé mais distante da portaria, sentaram-se em frente a um pequeno lago e permaneceram falando sem trégua naquela manhã ensolarada e incerta. Foi, então, que ela tirou os sapatos e colocou os pés na água para diminuir a tensão, dar espaço aos impulsos sensoriais e naturais de fundo que os uniram. Ele pareceu não entender o gesto, riu dos seus pés pequenos e a convidou para ir embora. O sol agora os queimava. Almoçaram num restaurante de comida sem tempero, falaram mais ainda na longa viagem de volta e se despediram com aquele até mais banal e definitivo.