domingo, abril 09, 2006

Escuta

Uma amiga de muitos anos separou-se do marido. E, é claro, vive as dores desse momento difícil. Ao perguntar-lhe os motivos de nunca ter pronunciado palavra sobre o assunto, já que éramos amigas, ela explicou: ah, você diria isso vai passar, não há de ser nada. Depois desse episódio procurei ficar mais atenta aos conselhos que dou aos amigos e conhecidos. Especialmente os que estão vivendo sob pressões de circunstâncias internas e externas. Compreendi, pelo acontecimento, e por experiência própria, que não existe nada mais aviltante e inútil do que ouvir receitas de salvação, conselhos superficiais de quem verdadeiramente não escuta. Escutar o outro significa desenvolver certa empatia. Sim, sei, é dificílimo. Ás vezes, impossível (não foi Wittgenstein que comprovou o fato pela filosofia?). Então, podemos apelar pelo respeito. Não o compreendo, mas respeito suas opções. E se o amo, fico ao seu lado, apenas para segurar sua mão, se você quiser, enquanto caminha à beira do abismo. E, se você se desequilibrar, posso ajudar-lhe com minha presença, quem sabe. Não lhe darei soluções fáceis, porque não sou você e não posso estar no seu lugar. Sim, eu gostaria de levar-lhe à força para o lado seguro da montanha. Grito para que você saia desse lugar, mas compreendo que não faço isso por você, mas porque não gosto de estar próximo a abismos. Grito para você, mas falo por mim. Mas, você prefere andar aí. Tudo bem, por amor, meu coração permanece sereno e presente. Ninguém vai lhe dizer isso quando você estiver vivendo uma situação difícil e estiver dispensando conselhos. Melhor juntar dinheiro e pagar um bom analista. Pena. O mundo precisa de bons e amorosos ouvintes.
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Proust e Shakespeare podiam dar conselhos. Leiam os motivos lá no Dennis D.