quinta-feira, janeiro 13, 2011

A Última Folha


"Subsistem folhas nas árvores, aqui e ali. E fico freqüentemente diante delas, pensativo. Contemplo uma folha e fixo nela minha esperança. Quando o vento brinca com ela, todo o meu ser treme. E se ela cai, que se pode fazer, minha esperança cai com ela.”

Para poder interrogar a sorte, é preciso uma pergunta alternativa (mal me quer/bem me quer), um objeto suscetível de uma variação simples (vai cair/não vai cair) e uma força exterior (divindade, acaso, vento) que marque um dos pólos da variação. Faço sempre a mesma pergunta (serei amado?), e essa pergunta é alternativa: tudo ou nada; não concebo que as coisas amadureçam, escapem às conveniências do desejo. Não sou dialético. A dialética diria: a folha não cairá, e depois ela cairá; mas enquanto isso você terá mudado e não fará mais a pergunta.

(ao consultar quem quer que seja, espero que me digam: “a pessoa que você ama também o ama e vai lhe dizer isso essa noite”).

A Última Folha. BARTHES, Roland. Fragmentos de Um Discurso Amoroso. RJ, Francisco Alves, 1989.p.146.