sábado, janeiro 14, 2006

Saori San

Depois de um ano de encontros e desencontros, MC Saori San e eu fomos almoçar num shopping. Conseguimos conversar. Assunto: a complexidade humana, relacionamentos. Cada um com a sua história, a sua dor, a sua forma de ver o mundo e de se relacionar com as pessoas. Compreender isso é importante para ver o outro, acolher suas contradições e retirar dos encontros o que há de melhor. Alguém já disse que se um indivíduo tem uma virtude, apenas, é com essa que devemos nos relacionar. Sem julgamentos. Não há santos ou demônios, concluímos. Também temos nossas idiossincrasias. Converso com ela de coração, colocando-me, também, eu e minha história. Ela, então, apresentou-me uma lista de pessoas: pediu-me um laudo de alguns de seus amigos. E, de brincadeira, como um exercício, fui detalhando minha percepção sobre cada um deles. Ela dizia, às vezes, surpresa: como você sabe isso? Li no seu corpo, respondia. Ela, então, concordava, discordava, argumentava que eu estava sendo tendenciosa em alguns casos, o que provavelmente era verdade (eu admitia, com sinceridade). Falamos, também, de relacionamentos amorosos, de decepções e desilusões. Contei-lhe que isso, inevitavelmente, vai acontecer. E que ela vai sofrer, mas vai sobreviver a isso, também. É preciso saber lidar com frustrações quando nos relacionamos, controlar expectativas (ela já tem namorado). O melhor de tudo foi poder conversar com minha filha, estabelecer um canal de comunicação. Ás vezes, esqueço que ela tem só treze anos. Admiro-lhe a personalidade forte. A firmeza de opiniões, a abertura em relação a questões polêmicas como aborto, homossexualidade, eutanásia. Ela tem um humor sutil, uma ironia certeira que consegue me arrancar gargalhadas. É uma delícia conversar com ela. À noite, vimos um filme juntas, de meia e pijama, no sofá. Eu lhe disse, então, que tinha saudades de minha menininha. Ela, então, aproveitou-se do enlevo nostálgico e sugeriu: então, seja uma boa mãe, vá até à cozinha e faça um lanchinho. Sua menininha está com fome.

Fui dormir cedo. Não raro, ela vai à minha cama para ajeitar as cobertas, dar-me um beijo de boa noite, antes de fechar a porta da biblioteca para conversar com os amigos na net e ouvir bandas de metal.

Amo minha filha. E não é só pelo fato em si. É uma conquista contínua. E ela está se tornando uma bela mulher, em muitos sentidos.

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