terça-feira, novembro 28, 2006

Encrencada

Abre a porta. Acende as luzes. Chama seu nome. Sem respostas. Vai até o seu quarto. Onde ela estaria? Pega o telefone e liga em seu celular e sua falta de esperança se concretiza: o celular toca no quarto, a filha novamente esquecera de levá-lo. Tenta se acalmar, “ela deve chegar logo”, diz a si mesma. Liga a TV, porém não consegue se concentrar no final do filme da tarde. Olha a janela e percebe que o sol já ia embora dando lugar à noite na hora mais traiçoeira e perigosa. Deixara-a com um grupo de meninos para assistir um ensaio. E o que diria o pai sobre o tal ato de uma ex-esposa? Prefere não imaginar. Escurece. Desespera-se. Faria algo. Pega as chaves e sai de casa. Procuraria a filha. Antes, liga para conhecidos, amigos. Descobre o lugar. Vai até lá, mas a informam que dali sua filha já havia ido embora. Coração na mão. Por que deixara? Algo havia acontecido. Dirige rapidamente, olhando para as ruas, esperando vê-la por ali. Decide, então, ligar para casa. Após algum tempo, alguém atende. “Alô”, responde. “Filha?”, “Sim, sou eu!” Minutos de alívio, solta o ar preso nos pulmões, antes de dizer “Você está encrencada”.
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Texto escrito por Maria Clara, minha filha de catorze anos, como parte do pagamento de um castigo. Método antigo para educação de filhos, de eficácia duvidosa.

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