domingo, novembro 20, 2011

A Sagração





"Sonhei com um grande ritual pagão! Tive uma soberba visão
repleta dos mais inusitados efeitos  sonoros indefiníveis..."


Em três tempos sagra-se uma mulher à primavera. Ela parte de si. A música lhe chega como sedução leve, alento aos seus dias limitados em forma e construção de sentidos. Ela se entrega aos poucos, até que a música a tome, afinal. Ela se dá ao piano, aos sons, aos impulsos das forças anímicas que a colocam no limite entre os mundos humano e animal. Rastejante como um réptil, agressiva e armada como um tigre, ela se movimenta, dissonante, e agoniza. Ao fim deste ato, ela já está despida do que a limitava em espaços e formas. Desconstrói-se nos ímpetos entre ritmos e pausas. Timbres, percussões e ritmos acima da harmonia, transformam-na em uma noiva primitiva. Algo enfim, se define e costura uma trama. Como Ariadne em torno do labirinto, ela enlaça fios entre a razão e a loucura. Forças primitivas incontroláveis violentam o ato e a impelem à construção de uma geografia sagrada, gestos que se ritualizam na repetição e nos impulsos. Ao final, no colo do piano, ela se transmuta em uma massa informe, algo ainda não nascido, zoomórfico, um ser que ensaia um vôo frágil.

2 comentários:

leãonardo carmo disse...

HL, bom, voce poderia nos fazer um favor: escrever mais sobre dança! E talvez fazer uma ponte entre a Toshiko Oiwa e a Pina Bausch no que se refere ao Stravinsky,coreografados por ambas. E será que a queria Cia.Quasar de Dança aceitaria montar o " Cafe Muller", talvez " Café Zabrinskie"?
Se eu editasse algum zoornal ou caderno em Gogoiânia a convidaria para textos especiais no que se refere a dança contemporânea e outras baladas do corpo e do intelecto.

Atena disse...

Leo, essa dança é demais!Toshiko Oiwa é fantástica. Mas a Pina Bausch, deus do céu, é algo que não se explica. Ela poderia ter nascido muda. Como alguém pode dizer tanto com o corpo? Isto é poesia em movimento...