quinta-feira, dezembro 09, 2004

Memórias e Momentos de Dor

Procuro manter os olhos voltados para o futuro, mas há dias, assim, tão sem expectativas, que as memórias involuntárias de Proust ficam favorecidas e daí, qualquer madalena, qualquer música, voz ou gesto, fazem-me voltar a um tempo feliz. Revivo este tempo perdido quando ouço algumas músicas da infância, as que tocavam no rádio da cozinha da Teresa, sempre ligado, na casa azul, a que sempre julguei a mais bonita da minha rua. Uma moldura de cimento na janela do quarto dos meus pais dava para as plantas altas do jardim e formava um esconderijo. Lá eu ficava horas, batendo bife com as folhas, sonhando e lendo numa deliciosa solidão anônima. Rua 209, número 80. Deve ter sido o primeiro endereço que decorei na vida. Há mais ou menos um ano, procurei este palácio, templo das minhas memórias de infância. Lá havia uma pequena casa cinza sem jardins ou crianças brincando, mas minha bela casa azul ainda vive em mim, como um refúgio em momentos de dor.

Um comentário:

Flávia disse...

Essa casa é aquela perto da casa do Páris, onde passamos uma vez?

Ô querida, entreguei meu projeto ontem. Estou tão mais leve! Beijos com amor.