quarta-feira, dezembro 30, 2009

Revelação

Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
queria apertá-los ao peito, sentí-los bem e morrer!
Álvaro de Campos. Ode Marítima


Havia sido formalmente convidada. Viajou com alta carga de stress funcional como era de costume. Manter o foco, era essa a atitude que alimentava a profissional e fazia com que ignorasse o espaço, as pessoas e todo o resto. Aeroporto, táxi, balcão do hotel. Deitou as malas no chão do quarto e abriu as portas da sacada. Daí, a surpresa. O mar. Era o mar. A brisa marítima invadiu o quarto e aguçou-lhe os sentidos. O céu, as ondas e aquele entardecer a fizeram lembrar de quem havia sido. Alguém que estava ao lado, dentro, sabe-se lá em que tempo ou lugar. Por instantes, ela era outra. Recordou-se de velhos e simples desejos. Sentiu-se só e chorou. Sabia que a dor maior da solidão era não ter com quem compartilhar alegrias. Calçou um tênis e correu para a praia, antes que o sol fosse embora. Falou com desconhecidos, sentou-se pouco à vontade junto a um banco em frente às ondas, mas voltou logo para o quarto, para as malas, o texto da conferência que ainda precisava de ajustes. Sim, era essa sua zona de conforto diante de todas as misérias pessoais. Trabalhou até ficar com sono e sentir-se menos ridícula por aquele inadequado êxtase marítimo. A conferência foi um sucesso, muitos a parabenizaram pela competência e inquestionável segurança.

8 comentários:

Maria Luísa Ribeiro disse...

Lindo texto!
parabéns, querida!
beijo,
Malu

Maria Luísa Ribeiro disse...

LINDO TEXTO!
Parabéns!!!!

Stefanie disse...

gosto muito do seu estilo de prosa, é uma leitura bastante envolvente.

Atena disse...

Obrigada pela visita, Stefanie!

Anônimo disse...

Heloisa,
Feliz aniversário!
Que muita saúde e equilíbrio sejam dados a você pelos deuses.
Parabéns e tudo de melhor!
Com carinho,
Anna.

Atena disse...

Anna, lindinha!
Saudades de você. Obrigada demais. Mil beijos!

Maria Luísa Ribeiro disse...

Gosto muito do seu texto Heloísa. Deveria escrever mais. Onde estão os poemas? beijo malu

Atena disse...

Querida, os poemas...ah, escrevem-se e reescrevem-se, atropelados pela urgência dos dias. Beijos!!!