sexta-feira, agosto 26, 2005

O Livro

Foi depois de alguns meses que minha filha havia nascido que o encontrei. De uma forma inesperada. Vi o livro na estante de minha mãe. As páginas já um pouco gastas pelo tempo não apagavam a imagem estampada na capa: um belo rosto masculino envolto em chamas. Abandonei-o na cabeceira da cama. Por dias. Meses. Não me lembro. Um dia, deitei-me bastante cansada. Minha filha já estava com alguns meses e eu ainda lidava com a maternidade de uma maneira extrema, dolorida, por razões que não consigo explicar. Além de tudo, sentia-me mal por olhar no espelho e constatar que me encontrava bastante acima do peso. Uma bobagem que adquiria dimensões inimaginadas pelo fato de ter sido gorda na infância e parte da adolescência. Neste dia, abri o livro aleatoriamente e fiquei surpresa com o texto. O homem envolto em chamas ensinava-me como emagrecer. Achei a coincidência interessante e o ensinamento bastante implausível. Guardei-o novamente. O fato se repetiu em outra ocasião. E outra. E mais outra. Com assuntos variados. Dos mais simples e corriqueiros, aos mais complexos e difíceis. Os textos não eram textos. Eram respostas. Fiquei curiosa a respeito do autor. Investiguei sua biografia, cruzei dados, e, por fontes variadas, outras informações foram chegando a mim, num tempo pré-google. Leio este livro até hoje. Depois de muitos anos, suas mensagens são sempre novas. Tempos houve em que ele foi a coisa mais real e cheia de sentido que eu possuía, a companhia mais importante nos momentos difíceis e solitários. Já o fechei com vergonha depois de alguns puxões de orelha, já o guardei com o coração cheio de gratidão amorosa. Tenho duas versões do mesmo livro. A que não carrego comigo, deixo, também, na estante. Que ele queira ser encontrado por minha filha, em algum tempo.

Nenhum comentário: