
Psicologicamente parece que fui muito condicionada. Mas sou livre: minha liberdade é escrever. Foi escolha ao que parece.
Minha liberdade? Minha própria liberdade não é livre: corre sobre trilhos invisíveis. Nem a loucura é livre. Mas também é verdade que a liberdade sem uma diretiva seria uma borboleta voando no ar. Mas no sonho dos acordados há uma ligeireza inconseqüente de riacho borbulhando e correndo. O estado de ser. A improvisação como modo de viver (...). Como é que se pode aprisionar um instante de beleza? E nem se pode aprisionar a harmonia. Tudo que é mais valioso não passa de um momento rápido – e logo extinto – de libertação (...).
Estou cega pelo desejo de liberdade.
Ser livre – livre de mim mesma, esse mim que foi trucidado pelo excesso secante de idéias.
Quando quero ficar livre, fico sozinha, e nua e sobretudo sem relógio.
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Para me divertir eu poderia inventar muitos fatos e histórias, inventar é fácil e não me falta a capacidade. Mas não quero usar esse dom que eu desprezo, pois "sentir"é mais inalcançável e ao mesmo tempo mais arriscado. Sentindo-se pode-se cair num abismo mortal.
O que procuro? Procuro o deslumbramento. O deslumbramento que eu só conseguirei através da abstração total de mim.
Eu quero não a idéia e sim o nervo do sonho que resulta na única realidade onde posso encontrar uma verdade. É como se eu tivesse inventado a vida - e - fiat lux. Mas o deslumbramento que eu tenho dura o espaço instantâneo de uma visão e eis-me de novo no escuro.
Como posso subir, senão aceitando minha miséria humana.
Minha liberdade? Minha própria liberdade não é livre: corre sobre trilhos invisíveis. Nem a loucura é livre. Mas também é verdade que a liberdade sem uma diretiva seria uma borboleta voando no ar. Mas no sonho dos acordados há uma ligeireza inconseqüente de riacho borbulhando e correndo. O estado de ser. A improvisação como modo de viver (...). Como é que se pode aprisionar um instante de beleza? E nem se pode aprisionar a harmonia. Tudo que é mais valioso não passa de um momento rápido – e logo extinto – de libertação (...).
Estou cega pelo desejo de liberdade.
Ser livre – livre de mim mesma, esse mim que foi trucidado pelo excesso secante de idéias.
Quando quero ficar livre, fico sozinha, e nua e sobretudo sem relógio.
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Para me divertir eu poderia inventar muitos fatos e histórias, inventar é fácil e não me falta a capacidade. Mas não quero usar esse dom que eu desprezo, pois "sentir"é mais inalcançável e ao mesmo tempo mais arriscado. Sentindo-se pode-se cair num abismo mortal.
O que procuro? Procuro o deslumbramento. O deslumbramento que eu só conseguirei através da abstração total de mim.
Eu quero não a idéia e sim o nervo do sonho que resulta na única realidade onde posso encontrar uma verdade. É como se eu tivesse inventado a vida - e - fiat lux. Mas o deslumbramento que eu tenho dura o espaço instantâneo de uma visão e eis-me de novo no escuro.
Como posso subir, senão aceitando minha miséria humana.
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Clarice Lispector apud Borelli, Olga. Esboço Para um Possível Retrato. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.
Clarice Lispector apud Borelli, Olga. Esboço Para um Possível Retrato. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.